25 de outubro de 2018

A COISA MAIS TRISTE DO MUNDO


A coisa mais triste do mundo

A
 coisa mais triste do mundo é uma criança não saber o mínimo possível... A, B, C... Dá uma tristeza na alma, porque ela não escolhe não saber. E não sabe por quê? Lembre-se daquele menino, tão pouco consegue dizer. Quem quiser chorar, chore, pois é a coisa mais triste do mundo.
A coisa mais triste do mundo, quem consegue dizer? É os meninos e as meninas não saberem essa ofício pseudo-sagrado de lerem e escrever, porque os seus sonhos bonitos não expressam, pois não sabem dizer. Tem as matas, os rios, os cães, a vida... tudo por descrever. Tem os passarinhos no ar, as castanhas no pé de caju, coisas que dá pra contar. Tem o texto bonito, a ciência e a arte, os quais poderiam ler. Tudo que o seus olhos grandes até querem, mas mal conseguem ver. Não veem por quê? É triste não saber. Quem quiser chorar, é hora, pois é a coisa mais triste do mundo.
A coisa mais triste do mundo chama-se ignorância, e não importa se é no senhor com bigode, na senhora de bastãozinho, ou na criança. Aquela menina bonita, da escola, só tem mesmo a esperança de um dia aprender, como as outras crianças. Aquela menina não boa entendedora de pobreza nem de finanças, para quem, muitas vezes, a voz zangada de um professor ralha, ralha até quando cansa. Porque a gente, muitas vezes, a gente demora  a compreender que o não-saber engole até mesmo as esperanças, e engole quase tudo. Mas engole por quê? Quem quiser chorar, chore, pois é a coisa mais triste do mundo.
A coisa mais triste do mundo é a criança não ter o que comer. Porém, ela deseja, mas nem sempre querer é poder. E não pode por quê? E a pobrezinha o quanto sofre sem estar também alimentada de saber! Saber que a escola deve dar, pois não está no seu querer privar criança nenhuma de cultura e de saber. Porque saber ler, escrever, contar, interpretar, calcular... são como o arroz, o feijão, que todo homem e toda mulher comem e que são duma precisão... Pense naqueles pequeninos ainda não sagazmente alimentados... a Maria ou o Raimundo... e, caso queira, chore, pois é a coisa mais triste do mundo.
A coisa mais triste do mundo é ter sempre a criança algo por dizer, mas o seu mestre ou mestra não quererem disso saber. E não escutam por que aquela vida é assim, tendo a criança querendo contar, tintim por tintim... por que é tão medonha, por que é tão calada, por que sobe no muro, desenfreada, por que é tão rebelde... Tem tanto a dizer, e aguarda, e aguarda...
A coisa mais triste do mundo é quando o amor falta; amor pelos outros, outros como nós, independentemente de quem sejam, precisa estar sempre em alta; apor pelo que fazemos, alegres feito meninos peraltas. É essa falta de amor que tanta criança mata. Mata sem matar, mas fazendo-a perder a fala; mata não matando, mas a criança desaba, e põe-se a nadar em rios de quase nenhuma água; mata não matando, contudo cortando as suas asas. Quem não tem amor pelos pequenos, que chore, pois a falta de amor é a coisa mais grave e triste do mundo.
Mas o mal pode se ir ladeira abaixo. Há problemas numerosos, como os de educação, passíveis de reversão. Há de ser! O não-saber pode dar lugar ao saber. E, de repente, a criancinha que não via começa a ver, a que não sabia começa a saber, a que nada dizia inicia-se no exercício de dizer, e começa ainda a dar gargalhadas até não mais poder, porque agora já saber ler, contar, escrever, e tudo quanto é possível poder. E, nesse momento, todas as crianças podem rir, um riso tão profundo, e que riam mesmo, porque o saber é a coisa mais bonita e mais alegre do mundo.
25/10/2018.

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