22 de janeiro de 2015

Os heróis anônimos

Faz uns dias que eu penso no seguinte: quem quiser fazer o bem a seus pais, não os faça sofrer; ou, radicalmente, eu diria melhor: apronte-se de um tudo nessa vida, mas não se perturbe os pais, porque isso seria cometer um crime.
Esta ideia nasceu em minha cabeça motivada por tudo que percebera, por tudo que vejo ocorrer em relação às famílias, casos bons e degradáveis que diretamente envolvem os pais.
Imagine-se uma mãe que, depois de imenso sofrimento para cuidar do filho, convive com as ameaças dele; pense-se numa senhora idosa, cuja vida já levou o bom tempo, vivendo uma escravidão familiar. E pense-se ainda nos pais depressivos, ou porque os filhos perambulam pelos maus caminhos, ou porque estão acometidos por um mal medonho. E esses meninos, jovenzinhos, usuários de drogas ilícitas, quanto temor não causam a seus pais; essas meninas mortas-vivas nos horríveis casamentos, quanto temor oferecem a seus progenitores... 
Toda adversidade para um filho é também uma adversidade para o pai e para a mãe. Quando fiz o vestibular pela primeira vez sofri de medo, tristeza e ansiedade, mas vi nos olhos de minha mãe que ela sentia o mesmo que eu. Certas vezes, tomara decisões que pouco ou nada agradaram aos meus pais, sobretudo quando passei a querer vida própria, livre de enfias, porém eles aceitaram, pois viam-me contente e resoluto.
No Cristianismo há um mandamento sagrado: deve-se amar ao próximo como a si mesmo. E me parece que os pais são os primeiros e os melhores a cumprirem-no, porque amam os filhos sem medida, sem distinção, sem limite. Tomam decisões que, agradem ou não, resultam no melhor. Aliás, é preciso ser pai ou mãe para poder compreender a essência desses seres.
Se houver mesmo inferno e paraíso, como rezam as religiões, os pais deviam automaticamente ser contemplados a se sentarem nas cadeiras do paraíso, uma vez que ter filhos já implica em muito sofrimento.
A grande maioria dos pais quer a felicidade dos seus, felicidade esta que se resume em todos os filhos estarem bem, sem problemas que os agrave. Se há amor verdadeiro, é o amor dos pais pelos filhos. As outras categorias amorosas são meras adaptações desse amor essencial. E graças a tal amor é que os pais verdadeiros são personagens eleitos da vida sem fantasia; são, na verdade, nossos heróis anônimos, nossos protetores de todas as horas que em troca dessa proteção só querem a felicidade dos filhos, unicamente isso. Felicidade que, como pensava Aristóteles, é a junção de todas as coisas boas. 
Não devemos a vida aos nossos pais pelo simples fato de eles nos terem gerado, e sim pela intensidade com que eles se tornam nossos companheiros. Companheiros imediatos. Por isso há-se de criar uma cultura que tire os pais do anonimato, que os respeite e os coloque no topo do pedestal. Nunca será a retribuição de um favor, que eles não querem isso, e sim uma questão de honra, coisa que devemos exigir de nós mesmos.

22 de janeiro de 2015