14 de fevereiro de 2015

A rotina positiva

Parece que há um mal entendido em relação à rotina de nossas vidas, pois até hoje todas as vezes que ouvi alguém mencioná-la foi para desmerecê-la, como se, em algum momento, não pudesse ter outra face, não pudesse ser boa.
Geralmente, as pessoas falam de rotina como sendo algo estafante, comum e repetitivo. Trabalho de rotina, por exemplo, é aquele que se faz todos os dias, mnemonicamente, constantemente cansativo e esdrúxulo. Dizer que um casamento está em crise significa dizer que caiu na rotina.
O sociólogo Zygmunt Bauman já dizia que o que nos faz ver a rotina com maus olhos, não a tolerando, é o fato de, desde que éramos pequenos, termos nos acostumado a desejar as coisas descartáveis, para serem depois substituídos com fúria. "Não conhecemos mais a alegria das coisas duráveis, fruto do esforço e de um trabalho escrupuloso", afirma ele. 
De fato, o frênesi da vida contemporânea nos impôs essa ideia de que a rotina é algo negativo e do qual não se pode tirar proveito nenhum. Claro que não se pode descartar a possibilidade de existirem determinadas rotinas no mínimo degradáveis, entretanto, há também rotinas saudáveis. Toda rotina, se sinônima de tédio, pode ser nefasta. Ao mesmo tempo, é injusto referir-se à rotina, em geral, como se ela não pudesse gerar alguns frutos que, como Bauman diz, podem ser duradouros.
Não posso acusar de mau o fato de, quase todos os dias, o menino do vizinho se dirigir a mim, pedindo que eu o ajude nas tarefas da escola, assim como não posso permitir que um livro permaneça fechado por longos dias, nem de deixar de brincar com meu filho... De certa forma, se na vida eu tivesse uma rotina produtiva, ela poderia ser completamente uma bagunça, senão um desespero.
Falemos em rotinas, em más, em boas. Mas queiramos, sobretudo, a rotina positiva, que imputará a execução de coisas boas. Essa rotina precisa ser como um poema agradável, belo e construído. Desse modo, essa rotina não nos cansará, não parecerá um tédio, ainda que seja exigente. Afinal, as atividades mais dolorosas são, às vezes, as que mais produzem. 

14 de fevereiro de 2015