29 de outubro de 2017

CRÔNICAS DA CIDADE ------ O Menino Sem Nome



N
ão muito longe daqui tem um menino... um Menino Sem Nome. De batismo, não; está lá, no cartório, no livro tal, número tal, o nome desse menino. Para mim, todavia, ele é sem nome, porque o nome dele não posso dizer, não posso rasgar, na garganta, aos quatro cantos desse mundo. Porque dizer o nome do menino é dizer quem ele é e em que condições ele vive.
Outro dia eu soube que o Menino Sem Nome tinha levado uma surra e que estava com as costas vermelhas. E há, na mesma casa, também uma menina sem nome, que outro dia tivera febre devido uns supetões que sua mãe, a Mãe Sem Nome, lhe dera. Aí eu fiquei ralhando, silenciosamente; xinguei muito, mas também silenciosamente, os pais do Menino Sem Nome.
O menino sem nome, que dá trabalho na escola. Quem o ensinou a ser assim? O menino sem nome que, no primeiro impulso, agride a irmãzinha. Quem lhe exemplou esse triste ato? O Menino Sem Nome que sabe xingar e dizer tudo quanto não presta. Mas não é só tragédia esse menino, não. Eu descobri que ele gosta de livros porque, essa semana, eu li para ele. O Menino Sem Nome gosta de gato e de cachorro. Ah, como gosta!
Isso me faz pensar nas tantas crianças sem nome; nas crianças violentadas, nas crianças agredidas, nas crianças desrespeitadas até mesmo dentro das escolas, nas crianças excluídas até mesmo por quem não os poderia excluir; e fiquei pensando ainda que são crianças sem nome as crianças que não têm o que comer, que não leem, não brincam e que, em detrimento, veem o que a TV mostra e, pior ainda, assistem às cenas terríveis da vida real.
Eu fiquei, e ainda estou, pensando nas crianças que vivem dentro de suas casas como prisioneiras; que jazem, nas suas moradias, com vontade de não estarem ali, com vontade de até sumirem do mapa e serem um ponto a menos. O gato comeu o bolo dos meninos sem nome.
E sua família é vitimada, vitimada com as pestes do mundo. Por isso tenho piedade dela. As pestes do mundo, que são tantas, encantam até os que se dizem mais astutos. Imperfeito que sou, não culpo ninguém.
Vai ser o quê, daqui a pouco, esse Menino Sem Nome? Pergunta triste. Enquanto não tiver nome, não vai ser nada. Vai ser o que seus pais são hoje? É provável. Mas ele pode ser uma coisa melhor porque daqui a pouco, quando tivermos coragem, essas crianças vão ganhar um nome. Quando sairmos do nosso triste estado de comodismo, quando acordarmos do nosso sono e percebermos que ao nosso lado nem tudo está bem. Quando a esperança desencantar, daremos nome aos meninos sem nome.
28/10/2017


24 de outubro de 2017

Ao eterno mestre, com carinho



Q
uerido mestre,

Hoje é uma data especial,
Em que comemoramos o seu dia,
O Dia do Professor.

Professor, quero dizer o quanto és importante...
Para a escola, para a cidade, para o planeta.
Tu que me dás a tua sabedoria,
O conhecimento que tens das coisas,
Que me fazes viajar como nas asas de um cometa.

Tu, professor, que diante das minhas dificuldades
Não tens cruzado os braços;
Inventa uma coisa, inventa outra coisa...
Um giz aqui, um desenho ali,
Logo adiante, um traço.
Tu, um inventor de metodologias,
Tu, que vais sempre além das caligrafias,
Tu, que não te importas em te tornares,
Caso eu precise, um mágico, um palhaço.

Tu que ralhas, professor,
Tu que brigas comigo,
Que dizes: “não faça isso! Preste atenção”!
Tu, sempre querendo me chamar atenção
Para o melhor...

Tu que me desequilibras,
Deixando-me na dúvida,
Para que eu vá mais longe.
E me equilibra de novo,
Quando ri comigo
Quando eu supunha não poder mais rir.

Tu, que quando vais dormir,
Fica pensando na melhor forma de eu aprender.
Na verdade, eu sei que tu queres é me convencer,
Me convencer de que eu posso...
Que eu posso muito mais do que sobreviver,
Que eu posso lutar pelos meus sonhos,
E ser grande, crescer...

Tu, professor, que ficas assistindo a minha luta,
Na minha casa, na minha família, no meu espaço.
Tu que me entende, professor, tu que me entende...
E quando eu desmorono, tu vens com um abraço...

Tu que és ousado, professor,
Pois estás disposto, sempre, a pegar tuas armas
E ir à luta comigo.
E sempre que eu ganho, és tu o primeiro a comemorar.
E se eu perder... Mas eu não perco, professor, eu não perco...

Eu não perco porque tu me falas de Deus,
De amizade, de respeito, de amor,
De solidariedade, de diferença, de esperança...
Porque tu me dizes que os livros não bastam,
Porque me ensinas a ser gente,
Gente de valor.

Professor, nessa fração de segundo quero dizer: tu és importante!
Afinal, professor não é a profissão das profissões?
Não é o professor quem forma o juiz, o doutor?
Ninguém pode ser alguma coisa sem passar por ti, professor.

Saibas, ó mestre,
Que o que fazes por mim salário nenhum compensa.
Não temas dizer: “eu trabalho por amor”.
Isso não quer dizer que você não viva em função de um salário,
Isso quer dizer que, ao trabalhar por amor, você faz a diferença.
Obrigado é tudo que eu posso dizer, e sei que é pouco.
Obrigado por fazer a diferença nas nossas vidas!
Feliz Dia do Professor!