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lusão que pode passar pela nossa cabeça
é a de que os pais possam, nesses tempos de pandemia de covid-19, tornarem-se
os substitutos dos professores de seus filhos. Não podem mesmo. Nem devem. Só numa
situação: se esses pais forem professores, de formação. E ainda assim não podem
usurpar o seu lugar, mas oferecer uma ajuda, porque o aprendizado se dá também
por extensão.
Ora,
os pais estão em desespero! Primeiro porque a escola remota é só uma simulação,
e fantasiosa, da escola real, daquela que tem parede, teto, pátio e, mais
importante, gente para todo canto; aquela que tem recreio, merenda escolar, a
professora, o professor, os abraços, as saudações; aquela que tem recadinhos, olhares, suspresas; é aquela que tem contação
das estórias dos livros, suas fantasias e invenções.
Em segundo
lugar, os pais estão acabrunhados porque as crianças e os jovens estão o tempo
todo em casa, e ao mesmo tempo que isso é bom não o é por outro lado, porque
requer uma criativa gestão do tempo, distribuindo-o em atividades das quais se
possa tirar algum proveito. E gestão de tempo, vamos reconhecer, não é nada
fácil, nem mesmo para quem é educador ou trabalha com educação.
Para uma
mãe ou pai de família a situação é um pouco complicada. De fato, como ser
professor dos filhos tendo a luta de todo dia para cumprir? A casa, a roupa, a
cozinha, as contas, o mercado... o trabalho, porque este também se tornou
remoto. Tudo isso nos leva a crer que a maioria dos pais, mesmo em quarentena,
não tem tempo sobrando para ensinar os filhos, imagine disposição...
E fora
essas questões, há outra mais importante a ser considerada, o fato de que
professor é insubstituível, naquilo que faz, pois ensinar uma pessoa não é só pedir a ela para
abrir o livro na página tal e responder as questões. Ensinar é esse exercício
de paciência, e também de doçura, exigente por si mesmo de outros gestos sem os
quais não tem sentido o ensinar: as explicações, as problematizações, os
encorajamentos, um certo olhar sobre as fragilidades... e tudo isso os pais, na
sua quase totalidade, não sabem fazer e, além disso, não têm o tempo nem a
paciência necessários.
Agora e mais do que nunca, soa importantíssima a mediação, isso que os bons mestres da pedagogia inventaram. Por isso
que para os professores tão importante quanto indicar atividades remotas é
conversar com os alunos, deixá-los ouvir a sua voz, cansar as cordas vocais que
podem, com um pouco de romã, melhorar.
Nessa pandemia,
impositora de uma nova forma de ensino e de aprendizagem, cumpre-nos esperar
dos pais aquilo que a eles compete: obrigar (porque obrigar também é tarefa de
pai e de mãe), não pela força mas pelo convencimento, os filhos a fazerem as
atividades, ajeitar-lhes as condições, apoiar, reforçar aquilo que só um
professor pode fazer. Porque ensinar, exercício dos mestres, é profissão
exigente de mil bocados de competências.