3 de dezembro de 2013

Cedo, mas não muito

Sempre tive alguma desconfiança de que acordar cedo pode nos trazer alguma vantagem, ainda que seja pequena. Já diziam os mais velhos aquele ditado popular: "quem cedo madruga Deus ajuda", querendo dizer certamente que há, sim, ganhos em acordar cedo.
Acordar antes do dia, talvez seja isso o que fazem os madrugadores. Eu convivi com essa experiência desde pequeno. Antes de ir para a roça, meu pai preservava o costume -- talvez o faça ainda hoje -- de pôr o café para ferver na fornalha ao som do rádio à pilha ligado, e isso até nos animava, enquanto esperávamos o dia terminar de nascer para que também pudéssemos nos dirigir à roça.
Durante anos a minha avó dormiu lá em casa -- parece que também o faz ainda hoje -- e era costume seu acordar cedíssimo e andar até sua casinha de taipa, levando em companhia um pedaço de pau para se proteger de algo. Um dia foi cedo de mais, começara a varrer o terreiro, mas percebeu que o dia não queria amanhecer. Claro, devia ser muito, muito cedo. 
Recentemente, flagrei algo interessantíssimo que me fez rir demais: uma mulher que eu conheço fazia exercício físico com sua bicicleta e fugia do cachorro, ou melhor, do seu próprio cachorro. Eu, assim como ela, já tentei, e não só por uma vez, fugir do meu próprio cachorro -- e é uma peste. Só há mesmo uma ocasião em que alguém deseja fugir do próprio animal de estimação: quando não quer que ele o acompanhe. Só pude me deliciar com esse fato porque acordei cedo.
Penso piamente que quem acorda cedo vive mais e que acordar tarde é perder a metade do dia. Nada como sentir o cheiro de café que exala de alguma casa, ver passarem os bondes e o povo varrer as ruas; nada como ver resplandecerem os primeiros raios do sol, ou alguém fugindo do próprio cão. Mas não aconselho nenhuma velhinha a acordar cedo de mais pensando que é quase dia. Um relógio no pulso nunca é de mais.