Sempre tive alguma desconfiança de que acordar cedo pode nos trazer alguma vantagem, ainda que seja pequena. Já diziam os mais velhos aquele ditado popular: "quem cedo madruga Deus ajuda", querendo dizer certamente que há, sim, ganhos em acordar cedo.
Acordar antes do dia, talvez seja isso o que fazem os madrugadores. Eu convivi com essa experiência desde pequeno. Antes de ir para a roça, meu pai preservava o costume -- talvez o faça ainda hoje -- de pôr o café para ferver na fornalha ao som do rádio à pilha ligado, e isso até nos animava, enquanto esperávamos o dia terminar de nascer para que também pudéssemos nos dirigir à roça.
Durante anos a minha avó dormiu lá em casa -- parece que também o faz ainda hoje -- e era costume seu acordar cedíssimo e andar até sua casinha de taipa, levando em companhia um pedaço de pau para se proteger de algo. Um dia foi cedo de mais, começara a varrer o terreiro, mas percebeu que o dia não queria amanhecer. Claro, devia ser muito, muito cedo.
Recentemente, flagrei algo interessantíssimo que me fez rir demais: uma mulher que eu conheço fazia exercício físico com sua bicicleta e fugia do cachorro, ou melhor, do seu próprio cachorro. Eu, assim como ela, já tentei, e não só por uma vez, fugir do meu próprio cachorro -- e é uma peste. Só há mesmo uma ocasião em que alguém deseja fugir do próprio animal de estimação: quando não quer que ele o acompanhe. Só pude me deliciar com esse fato porque acordei cedo.
Penso piamente que quem acorda cedo vive mais e que acordar tarde é perder a metade do dia. Nada como sentir o cheiro de café que exala de alguma casa, ver passarem os bondes e o povo varrer as ruas; nada como ver resplandecerem os primeiros raios do sol, ou alguém fugindo do próprio cão. Mas não aconselho nenhuma velhinha a acordar cedo de mais pensando que é quase dia. Um relógio no pulso nunca é de mais.