Parece que quando, aos domingos, vou à missa me deixo
inebriar pelo cheirinho de perfume de alfazema que domina o grande salão da
igreja. Quero dizer o quê? Que me deixo fascinar por aquelas pessoas já idosas,
de grande idade, de face serena que põem-se sentadas nos bancos emadeirados,
fazendo-se em rezas e orações.
Me encanta,
nos senhores e senhoras, menos a idade expressiva do que o fato de saber que,
postos naquele nível da vida, viveram grandes experiências e as mais diversas.
Aí, indago a mim mesmo: que viveram esses idosos? São homens e mulheres que
provaram do mais salgado da vida, do mais doce até, do mais azedo, do mais
insosso por ventura. Não há nesse mundo do que não tenham provado. Tristeza e
alegria povoaram suas vidas, não há que duvidar. Gente que teve filho, que
lutou para os ver progredir; gente que, sem querer, perdeu a prole, quase
morreu de dor, sentiu a face em puro espanto; gente que, também, teve sua fase
de iluminismo, que cresceu na vida, vivendo de tudo e de tudo tirando algum
proveito e ensinamento.
Esses
velhinhos e velhinhas são o baú da humanidade. Um baú nunca é depósito de coisa
sem serventia. Ao contrário, do baú há de se tirar coisa bem proveitosa. Como
baús da humanidade, os idosos são exemplos, são fonte de sabedoria, de
inspiração para viver, para saber fazer-se no mundo. Os idosos são a memória do
mundo, por isso, fonte de saber. São a beleza do mundo, por isso, fonte de
poesia, de encanto.
Assim, penso
que a nossa cultura necessita ser uma cultuta que não só respeite, mas acima de
tudo ame os idosos. Eles que trouxeram a vida até aqui, guerrearam para vencer.
Grandeza mesmo reside em seus rostos magestosos. E, como afirmara a filósofa
Marilena Chauí, desvalorizar os idosos é negar a memória, negar o passado,
descartar a vida.