É encantador ver no ser humano a alegria em agradar aos
outros. Agradar com pouca coisa, mas que, pela atitude, fermenta-se. Assim,
vejo conterrâneos meus lá dos confins da terra trazerem para um amigo da cidade
umas bajes de feijão – raridade nos tempos de crise. Quando não é o feijão verde
é o jerimum de casca verde-fartura, é a monstruosa espiga de milho colhida lá
do monturo – primeira safra daquilo que melhor pode dar a terra. Tem também, e
sempre, algum cozinhado de maxixe. Sempre uma ou outra coisa.
Ocorre
também que, às vezes, o agradado nem é um amigo, mas um mero conhecido que
realizou um trato decente, maneira de dizer que com alegria prestou um favor.
Nessa situação majestosa, sobressai-se a vontade de contentar.
Outro dia,
por exemplo, ajudei uma amiga a formatar um trabalho de pesquisa e, ao final,
como eu dissesse que aquilo não me custava nada, deu-me ela uns torrões
branquinhos de goma de mandioca. Tinha amealhado eu a merenda do dia seguinte,
despretensiosamente. E ela, a amiga, deixava transparecer o contentamento.
Mais
recentemente, indo para o sítio com minha sogra, passamos na casa de uma
senhorinha que, tomando a estrada, nos pediu para ver o que acontecera de
errado ao seu telefone. Mexi de um lado e de outro, ouvindo a palestra na sala,
porém o aparelho não deu bons sinais. Ainda assim, a boa senhora prometeu-nos
um pedaço de queijo.
Há pouco
tempo não se fazia uma visita na casa de outrem sem levar de lá fosse o que
fosse: uma manga madura, um punhado de farinha, dois ou três bolinhos de
sequilho, meia dúzia de ovos de galinha. Era a maneira utilizada pelas pessoas
para agradecer pela consideração.
Essa
delicadeza no querer agradar vem de onde? Da própria natureza? Rousseau diria o
quê? Que sim. Eu não sei se natural, contudo sei que nas pequenas cidades é só
o que a gente vê. Vê e acha bonito. Acha bonito e vai seguindo a moda. Agradar,
nesses lugares, vem do berço, vem do costume, emanando daquilo que o ser humano
tem de melhor. E eu fico pensando sobre o custo zero dessas atitudes, da ação
de agradar. E se a moda pegasse geral, sonharíamos um destino melhor à
humanidade, carente desses menores agrados.
5 de Abril de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário