À tardinha, os meninos jogam bola na rua em que moro. Há, por parte deles, uma algazarra tremenda, mas é um barulho que energiza a rua, envivecendo-a. A alegria é constante e me faz lembrar de meu tempo de menino, em que havia também muito movimento nos campinhos de futebol.
A rua daquele tempo é aquela que já não existe. Foi-se no gargalo do tempo, só a memória sabe dela. Era uma rua de muitas brincadeiras que enlaçavam a criançada. Brincadeiras, brigas e pequenas intrigas entre os moleques; intrigas sem maldades, naturalíssimas. De todas as brincadeiras, o jogo de bola estava lá, disponível a todos os garotos.
Os campinhos se localizavam, quase todos, nos outões das casas, pertinho mesmo, no centro da rua. Assim, não havia momento de vadiagem em que não corrêssemos para lá, para correr atrás da bola, nem que fosse por um instantinho só. Se alguém vinha brigar conosco devido ao barulho, corríamos a construir outro campo, e todo mundo ia, como se jogar bola fosse sagrado.
Nós, moleques em idade de querer se mostrar, queríamos, todos, ser bons jogadores, para que quando chegasse a vez de um menino qualquer montar seu time, nos escolhesse. E os artilheiros? Nossa como eram disputados. O Cicinho jogava muito bem. Era, por isso mesmo, quem mais levava escorões e caneladas. Também era o mais enraivado dos meninos. Como possuía a melhor das propriedades - a bola -, e sendo também quem mais sabia dar dribles, não queria ficar partida sem jogar.
A jogada entrava nas bocas de noites. Nada paralisava os jogos de bola, nem mesmo a voz às vezes zangada de nossos pais a nos chamar para cumprir alguma tarefa. Nem sequer as queríamos ouvir, tão grande se fazia nossa alegria, como se a felicidade do mundo fosse aquilo tudo: uma bola.
Os meninos jogam bola e me trazem boas recordações. Me lembram que os jogos de bola coroaram, em sentido de consagração, a infância e juventude de tantos meninos, num tempo facílimo de se iludir com a vida. Aqueles jogos de bola serviam para amenizar a rudeza das nossas experiências pessoais. Jogar bola era o momento de esvair a lassidão dos nossos dias. Éramos, por um momento, meninos alegres apenas com uma bola: nem que fosse só para correr atrás dela.
30 de dezembro de 2015.
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