Ao comemorarmos o Dia da Consciência Negra, data
histórica no nosso calendário brasileiro, o fazemos não compreendendo que o negro
seja um coitadinho, e sim que ele teve e
tem importância fundamental na constituição do nosso povo. Compreendemos que em
nossas batalhas e lutas que nos trouxeram conquistas de direitos fundamentais
sempre está presente a marca dos afrodescendentes. Marca que está também em
nossa personalidade, em nosso caráter, em nossa predisposição para vencer.
Temos sorte porque temos uma comunidade como a Lagoa
dos Crioulos que muito nos enriquece e nos orgulha com seus traços culturais.
Apesar de pouco valorizada, a Lagoa dos Crioulos é expressiva em manifestações
artísticas, religiosas e lendárias. Suas lendas nos fascinam completamente.
Seus habitantes nos dão uma verdadeira lição de humildade e sobrevivência.
Nesse sentido, nesta pequena ação que hoje realizamos, homenageamos a
comunidade quilombola de Lagoa dos Crioulos.
Neste Dia da Consciência Negra, cabe-nos lembrar que
os afrodescendentes originários são um povo que aqui no Brasil chegaram, vindo
à força, e logo procuraram se adaptar aos costumes predominantes, porém também
contribuíram com a sua cultura, seu modo de ser, suas crenças, saberes e lutas.
Cabe-nos lembrar, mais que tudo, de suas batalhas por dignidade, por igualdade,
pelo direito à liberdade, por valorização enquanto seres humanos.
É com vergonha que devemos lembrar também que os
negros brasileiros já foram escravizados, por muito tempo submetidos ao
trabalho forçado, servindo de propriedade alheia; que já foram maltratados,
surrados e até mortos nas senzalas desumanas. Porém, com alegria, lembremo-nos
ainda que esses mesmos que na história foram magoados também souberam lutar
contra a dor e a opressão; muitos deram seu sangue em prol do reconhecimento de
seu valor e de sua dignidade humana.
Lembremo-nos, por fim, que essa história de luta dos
afrodescendentes por direitos e igualdade ainda não teve fim. Afinal, ainda
vemos diariamente práticas preconceituosas e racistas contra essa população
guerreira. Práticas irracionais e desumanas que ferem essas pessoas
historicamente marginalizadas. Assim, é necessário lutar cada vez mais para
entender que o preconceito e o racismo são posturas vergonhosas, que nada pode
justificar. Mas essa luta que antes parecia só dos negros hoje é de todos nós,
porque os negros são parte do que somos, de tal forma que se alguma coisa ou
alguém os ferir estará também este algo ou alguém ferindo a alma de todos nós.
É uma luta árdua, que faremos dia a dia, mas que não pode ficar só em palavras,
e sim em atos.
Não existem raças distintas, a raça é uma só: a raça
humana. Não é a cor da pele que definirá a grandeza das pessoas, e sim a
condição de sermos pessoas e o nosso histórico de lutas. Tudo isso, nós negros
temos de sobra. Que ninguém se culpe por sua cor, pois a grandeza humana está
além, muito além da pele.
Mensagem proferida no Dia da Consciência Negra, no Primeiro Evento de Cultura Afro-brasileira na escola José Valdemar de Alcântara e Silva.
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