Foi muito recentemente que me passou essa ideia pela cabeça: se cada um de nós denunciasse as injustiças do mundo, as desumanidades, quão melhor o mundo, ou pelo menos o nosso entorno, se tornaria. Seria um gesto de grandeza e de coragem, sendo que esta última não é tão fácil possuir quanto a primeira, sem a qual a outra não basta.
A coragem, num mundo de constantes perigos como o nosso, é algo raro. Por conta disso, a gente se acostuma a ver, a nossa volta, uma série de crueldades, e, para não nos envolver, fingir que nada presenciou. É uma criança agredida, é outra que não vai para a escola; de quando em vez, há um idoso desrespeitado em seu próprio lar ou fora dele, bem perto de nós; também não muito longe, homens de porte animalesco batem em suas mulheres e as privam de alegria; a um passo de nós, assistimos as ordens da corrupção, da tirania, do abuso de poder, que nossos olhos desesperançosos já se acostumaram a não ver, vendo.
Porque a ordenança é que cada macaco mantenha-se em seu galho, sob pena de não ter que pagar pelos outros. E desse jeito a gente vai atendendo essa ordem bruta; afinal, ninguém quer estar em perigo, correr risco. Estar cômodo é tão bom, dizia o filósofo Kant, porque justamente não traz risco. Comodismo este que nos vai, dia após, causando a ruína de nossa vida.
Se o medo opera, parece que a maldade põe-se naturalizada. Se houvesse compreensão por parte de todas as pessoas, pelo menos as de sã consciência, de que o mal não tem justificativa (utopia irrealizável), tudo seria bem diferente. Ou se pelo esse mundo garantisse proteção a quem se aventurasse a melhorá-lo (por enquanto, mais uma utopia)...
Resta-nos a esperança na efetivação daquilo que chamamos direitos humanos. Enquanto isso, cada macaco no seu galho, e dane-se a humanidade.
9 de setembro de 2015.
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