Enquanto eu passar pela estrada
que ruma à Serra, e vir a casinha ao lado da estrada, de cor verde desbotado,
lembrar-me-ei daquela que foi grande nesta cidade, que se chamou Adilma Mendes.
Vou me lembrar daquela mulher
mãe de sete filhos, aos quais soube dar amor sem limitações. Para eles
trabalhou, corajosamente, para sustentar-lhes a preciosa vida. Como mãe,
preocupou-se (isto está na essência das mães), mas também fez-se toda em
alegria para com seus filhos. Em sua face de verdadeira mãe de família, foi
imensamente feliz, por ter se entregado inteiramente e vivido de forma intensa
cada momento, porque o amor foi o tempero utilizado por ela para dar sabor à
vida.
Vou me lembrar daquela que tinha
um café no centro da cidade. Lá atendia sem distinções a todos os transeuntes,
de grande e de pouca influência. Cobrou não só o mesmo preço pelo café e pelo
almoço, mas soube também rir o mesmo riso a todas as pessoas. Riso que, na
verdade, expressão de vitalidade e de doçura. Quem pôde ir tantas vezes ao café
de Adilma, decerto foi para provar a comida saborosa, uma vez tendo sido ela
cozinheira de mão cheia; mas foi, do mesmo modo, para ouvir suas gaitadas e
brincadeiras. Sobremesa para quem carrega a vida como um fardo nas costas.
Vou me lembrar daquela mulher
trabalhadora, que nunca sossegou nem se deu ao desprazer de cruzar os braços,
pois gostava de ganhar o pão de cada dias com o suor do próprio corpo.
Lembrar-me-ei da devota de
Nossa Senhora: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois
vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria,
Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”.
Rezadora incansável do terço. Confiou às Ave-Maria toda a sua trajetória. A
Deus entregou sua casa e seus meninos. À igreja serviu frequentemente, sinal de
sua obediência.
Não vou me esquecer daquela que
ficou. Ficou na memória e no coração de todos aqueles que a conheceram. Porque
os verdadeiramente grandes não partem. Depois que dormem, ficam, pois
inesquecíveis se tornam. Adilma é a mulher que permanece. Permanece como
exemplo de filha e de mãe exemplar; como aquela que foi guerreira e
trabalhadora infatigável; permanece como aquela que se doou aos outros, amando
sem dó; como aquela que soube partilhar; que soube respeitar os limites do
mundo, confiando em Deus; aquela que, de cada momento, bom ou ruim, transformou
em situações de alegria.
Quando nos lembrarmos de alguém
que riu muito, lembremo-nos de Adilma Mendes. A impressão que tenho – uma quase
certeza – é de que ela continua a rir. Ainda nos ensina a rir. E parece-me
também que, lá onde está, no reino fantástico, não ri sozinha. Ri cercada de
gente, tão alegre quanto sempre fora. Adilma ri enquanto nos espera. Ri porque sabe certa a experiência do reencontro.
29/1/2017
Fico encantada com a sua sensibilidade em escrever belos textos. Linda crônica, querido poeta!
ResponderExcluirParabéns, Manoel.
ResponderExcluirFiquei emocionada com a crônica.
Realmente o sorriso no rosto era marca registrada de Adilma. É uma grande perda.
Belíssimo...
ResponderExcluirSoube retrata adilma sempre sorridente.