17 de maio de 2015

Quem são eles, os estudantes?

Quando vou ministrar aulas, às vezes o comportamento dos alunos me apavora, por vezes me desilude, mas também me provoca uma série de indagações. Indagações difíceis de responder, merecedoras de atenção, já que é necessário compreender esses jovens para poder fazer algo por eles. 
Quem são esses jovens que mal nos deixam dar aulas? Por que a sede de conversa e de balbúrdia é maior que a sede de conhecimento? Por que tanta brincadeira, tanta ironia, tanto descaso com a tarefa de aprender? De onde vieram, tão cheios de liberdade e indiferentes ao outro? Que são eles, o que querem, o que os determina é o que sempre eu me pergunto.
Eu devia ter raiva diante da confusão, das conversas, do pouco caso, e, com a voz de comando e autoritarismo, mandar meia dúzia a casa, castigando-os, ordenando que voltem dias depois acompanhados de seus pais. Porém, descobri que não é deles que eu devo ter raiva; devo ter de sua condição, da vida que carregam, do meio em que vivem; raiva, muita raiva ao pão que não comem, aos livros que não leem, ao incentivo que não têm. Porque o que eu vou ganhar tendo ódio de quem está frustrado por não ter um pai, ou por ter sofrido, no caminho da existência, uma grande opressão? Muitos dos nossos estudantes têm essa cara frustrada e oprimida. Junto a essa face dos nossos jovens tem sempre um pouco de medo, de insegurança, de desejo, nada herdado nem posto em sua natureza, mas sim amealhado no caminho de suas vidas.
Uma professora certa vez disse que estudantes só mudam de endereço, porque, no geral, são idênticos, pois em qualquer escola provocam situações de instabilidade.
Essa juventude plural domina as suas casas e propõe também a dominação da escola. Ela têm um poder forte que se manifesta em indisciplina, revolta e insubordinação, em excesso de liberdade e na escassez de responsabilidade. Talvez não se dê conta que é um falso poder, já que é feito da insegurança e de medo. Quem sabe na hora em que o perceberem, passem a aceitar a escola melhor, e até querer uma escola melhor. Quem sabe percebam que o conhecimento lhes ajudará a construir outra vida, a lutar contra aquilo que lhes enfraquece e amedronta.
Essa percepção que os jovens precisam ter sobre a escola e o conhecimento depende muito de nós, professores. Não para mudar sua vida, mas para inspirar neles essa transformação. Difícil, é muito difícil. Fazer com que os estudantes queiram de verdade aprender algo é o maior desafio na escola. E sem o gosto, não aprenderá nada. Forçar alguma coisa servirá para adestrá-los, não para educá-los. Forçar quem, pela vida, já é forçado, a meu ver, é acabar de matar.

17 de maio de 2015


Um comentário:

  1. Às vezes, parece-nos que para nossos estudantes tudo é mais atraente, sedutor que o estudo, o conhecimento. Os jovens têm noção de que estudar é importante para lhes garantir um futuro, mas constantemente vêm esse futuro ameaçado pelo presente. Ensiná-los que estudar, na maioria das vezes, não é prazeroso, pois exige dedicação, disciplina e reflexão, torna-se difícil, pois essa percepção é distorcida. Ensinar é um desafio a cada novo dia em sala de aula.

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