Quando vejo
essas crianças e esses jovens, eu sinto alegria imensa; quando os vejo, em seu
estado de iluminismo, eu sinto uma inveja tremenda, inveja porque podem estar
vivendo essa fase de suas vidas, povoada de uma alegria quase natural, onde
tudo demonstra sentido de se viver.Eu fui
menino e adolescente e nunca vou me esquecer dessa dádiva, porque a vida não me
permitirá. “Quando crianças, não há preocupação que nos assalte”, costumamos
dizer a todo momento. Essa meia verdade é uma ideia comum. Mas não é a falta de
preocupação que me faz, no pensamento, querer reviver os tempos que tive. Na
verdade, eu era uma criança preocupada, como ainda hoje, porque a minha
infância não foi coroada. Só que, à parte as dificuldades, fora um tempo muito
bom.Primeiro
porque todo mundo estava em casa. Depois, porque se via a natureza da porta de
casa. Em seguida, porque a simplicidade nos fazia imenso bem. Por último, viver
parecia ser uma experiência profunda.Ao afirmar
“todo mundo estava em casa” quero expressar que a gente não tinha que sofrer
pela partilha da família, pela sua fragmentação, que sempre nos causa dor. Além
disso, parece que a gente se queria muito mais, num amor quase que sagrado.
Havia tremenda graça em se tomar um simples café arrodeados da fogueira em
noite de escuridão. A comida, de tardinha, ganhava mais gosto quando a mesa
punha-se repleta de gente, umas pessoas vivendo em prol das outras.Quando
criança habitei a zona rural, e por isso fui privilegiado, pois o contato com a
natureza me fez imenso bem. Os meses de chuva pareciam inexplicáveis e neles
vivíamos melhor. O verde transformava a paisagem, assim, ríamos com o tempo. A
minha avó e o meu pai tinham uma choupana de taipa, onde nos abrigávamos. Trabalhávamos,
colhíamos as melancias doces, os jerimuns, armávamos as arapucas... Todo mundo
punha-se a ralhar na roça (eu nunca tive grande coragem física, mas estava lá,
alegremente), e nos confortávamos na união.Rousseau, um
suíço do século do iluminismo, já dissera que em estado de natureza é a
simplicidade que domina, é a bondade original, livre de todos os males, que
permeia a vida do homem. É bonito esse romantismo pronunciado pelo mestre
Rousseau. Na infância e juventude normalmente ninguém pensa em ser mais, em ter
mais. Pensamos, sim, em crescer, pela curiosidade que a vida adulta nos
proporciona, em sair de casa, conhecer outros lugares e novas gentes,
assanhados por essa curiosidade.Não penso
que após deixarmos de ser crianças e jovens a vida perda a sua profundidade.
Não, pelo contrário. O que penso é que há, naquele momento da vida, mais gosto,
mais sentido em se viver. A vida adulta é resultado da própria natureza humana,
afinal de contas ninguém pode decidir se vai crescer ou não. Entretanto, ao
crescer perdemos alguma coisa: a família, os amigos, a simplicidade
terapêutica... Não há como voltar atrás, mas há, e isso é muito, como guardar
na memória esses grandes instantes de alegria e de bem viver. Hei de lembrar,
dia após dia, dos passeios que fazia com a minha avó na estrada desabitada,
para “roubar” manga; lembrarei dos banhos de chuva, das rezas da minha mãe...
Melhor do que voltar atrás é possibilitar que meu filho, hoje uma criança,
também viva momentos assim de felicidade e lembre-se deles com alegria.
Antigamente, a cigarra cantava e eu fazia versos inspirado por esse canto. Eu
quero que, sempre, a minha infância, como as cigarras e os grilos da noite,
cante para mim, para que eu possa escrever os versos que farão a minha vida expressiva, sempre desejada. Será o meu
passado se reafirmando no meu futuro. 25 de
outubro de 2014
1 de novembro de 2014
1 de outubro de 2014
Rita doida, Rita alegre
Eu sempre quis, me lembro agora, escrever algumas palavras sobre Rita doida. Doida como ela há tantas, mas nenhuma igual. Mas não é sua loucura particular que me interessa; é que, desde menino, conheço Rita doida, o que me ajudou a ter um respeito imenso por ela.
Rita doida nora sozinha numa casa de paredes mal pitadas e pequena, na Rua São Pedro. Parece muito fácil dizer: "Aquela é a Rita doida, abestalhada, que nem juízo tem". Isso porque também é muito fácil ignorar que a Rita doida perdeu seus dois meninos, teve uma quase-morte, um trauma existencial. O resultado foi aquele enlouquecer que a fez perder a razão. E que pai ou mãe não seria uma Rita doida sofrendo uma fatalidade assim? Aos poucos, Rita doida foi também perdendo a mãe e o pai, ficando desamparada, e a loucura foi como que se generalizando.
Alta noite, ela conversa só, em alta voz, como se acompanhada de mais gente. Ora chora, ora diz palavrões, briga, dá estridentes gargalhadas, mostra-se valente. Quando se torna diminuta a loucura e ela quer ter um pouco de consciência, conta histórias reais,vividas por si,onde ela figura como heroína. Sempre lembrando dos seus. Noutros momentos, já sumida a sanidade, imita fantasmas, faz rir aos outros, adultos e a meninada local.
Rita doida não faz mal nenhum. Há, na rua, gente insensata que amedronta as crianças: "Corre, que a Rita doida te pega". Rita até gosta das crianças, pois já a vi dando moedinhas a elas. Quando uma criança tem gazes, Rita vai na sua casa, dá um trago no cigarro e joga a fumaça no umbigo para ver se a doença some. Rita quer bem aos pequenos da rua. Mais doida que a Rita é quem a explora, mandando-a colocar água na cabeça em troca de restos de couro de galinha ou de uma cuia de farinha. Muito mais louco que ela é quem detesta criança na rua, é quem a faz ir ao cemitério, de madrugada,prometendo-lhe dinheiro. Todos os desumanos são doidos, muito mais doidos que a Rita doida. Muita gente que julga a Rita tem uma certa loucura e ainda não sabe.
É necessário que eu diga em que consiste a peculiar loucura da minha amiga: é que ela, tendo todas as razões possíveis para se entregar a depressão e padecer, é uma doida alegre. Alegre no sentido de que nada faz se lastimando, e eté (senão nos instantes de profunda inconsciência) vive normalmente, como uma pessoa dotada de todas as capacidades mentais. Rita alegre, e não doida. Rita alegre que sabe alegrar, que faz rir, que não joga pedra, nem corre atrás de ninguém. Rita é da rua, e uma loucura alegre, como a dela, pode servir de remédio. Por isso mesmo é que nunca tive pena ou dó da Rita, pois nela sempre vi pairada uma luz, uma alegria rara. É que eu fui me formando para compreender a grandeza dos que socialmente se apequenam.
01 de outubro de 2014
Rita doida nora sozinha numa casa de paredes mal pitadas e pequena, na Rua São Pedro. Parece muito fácil dizer: "Aquela é a Rita doida, abestalhada, que nem juízo tem". Isso porque também é muito fácil ignorar que a Rita doida perdeu seus dois meninos, teve uma quase-morte, um trauma existencial. O resultado foi aquele enlouquecer que a fez perder a razão. E que pai ou mãe não seria uma Rita doida sofrendo uma fatalidade assim? Aos poucos, Rita doida foi também perdendo a mãe e o pai, ficando desamparada, e a loucura foi como que se generalizando.
Alta noite, ela conversa só, em alta voz, como se acompanhada de mais gente. Ora chora, ora diz palavrões, briga, dá estridentes gargalhadas, mostra-se valente. Quando se torna diminuta a loucura e ela quer ter um pouco de consciência, conta histórias reais,vividas por si,onde ela figura como heroína. Sempre lembrando dos seus. Noutros momentos, já sumida a sanidade, imita fantasmas, faz rir aos outros, adultos e a meninada local.
Rita doida não faz mal nenhum. Há, na rua, gente insensata que amedronta as crianças: "Corre, que a Rita doida te pega". Rita até gosta das crianças, pois já a vi dando moedinhas a elas. Quando uma criança tem gazes, Rita vai na sua casa, dá um trago no cigarro e joga a fumaça no umbigo para ver se a doença some. Rita quer bem aos pequenos da rua. Mais doida que a Rita é quem a explora, mandando-a colocar água na cabeça em troca de restos de couro de galinha ou de uma cuia de farinha. Muito mais louco que ela é quem detesta criança na rua, é quem a faz ir ao cemitério, de madrugada,prometendo-lhe dinheiro. Todos os desumanos são doidos, muito mais doidos que a Rita doida. Muita gente que julga a Rita tem uma certa loucura e ainda não sabe.
É necessário que eu diga em que consiste a peculiar loucura da minha amiga: é que ela, tendo todas as razões possíveis para se entregar a depressão e padecer, é uma doida alegre. Alegre no sentido de que nada faz se lastimando, e eté (senão nos instantes de profunda inconsciência) vive normalmente, como uma pessoa dotada de todas as capacidades mentais. Rita alegre, e não doida. Rita alegre que sabe alegrar, que faz rir, que não joga pedra, nem corre atrás de ninguém. Rita é da rua, e uma loucura alegre, como a dela, pode servir de remédio. Por isso mesmo é que nunca tive pena ou dó da Rita, pois nela sempre vi pairada uma luz, uma alegria rara. É que eu fui me formando para compreender a grandeza dos que socialmente se apequenam.
01 de outubro de 2014
9 de setembro de 2014
Idosos: baús da humanidade
Parece que quando, aos domingos, vou à missa me deixo
inebriar pelo cheirinho de perfume de alfazema que domina o grande salão da
igreja. Quero dizer o quê? Que me deixo fascinar por aquelas pessoas já idosas,
de grande idade, de face serena que põem-se sentadas nos bancos emadeirados,
fazendo-se em rezas e orações.
Me encanta,
nos senhores e senhoras, menos a idade expressiva do que o fato de saber que,
postos naquele nível da vida, viveram grandes experiências e as mais diversas.
Aí, indago a mim mesmo: que viveram esses idosos? São homens e mulheres que
provaram do mais salgado da vida, do mais doce até, do mais azedo, do mais
insosso por ventura. Não há nesse mundo do que não tenham provado. Tristeza e
alegria povoaram suas vidas, não há que duvidar. Gente que teve filho, que
lutou para os ver progredir; gente que, sem querer, perdeu a prole, quase
morreu de dor, sentiu a face em puro espanto; gente que, também, teve sua fase
de iluminismo, que cresceu na vida, vivendo de tudo e de tudo tirando algum
proveito e ensinamento.
Esses
velhinhos e velhinhas são o baú da humanidade. Um baú nunca é depósito de coisa
sem serventia. Ao contrário, do baú há de se tirar coisa bem proveitosa. Como
baús da humanidade, os idosos são exemplos, são fonte de sabedoria, de
inspiração para viver, para saber fazer-se no mundo. Os idosos são a memória do
mundo, por isso, fonte de saber. São a beleza do mundo, por isso, fonte de
poesia, de encanto.
Assim, penso
que a nossa cultura necessita ser uma cultuta que não só respeite, mas acima de
tudo ame os idosos. Eles que trouxeram a vida até aqui, guerrearam para vencer.
Grandeza mesmo reside em seus rostos magestosos. E, como afirmara a filósofa
Marilena Chauí, desvalorizar os idosos é negar a memória, negar o passado,
descartar a vida.
3 de agosto de 2014
Uma água, moço?
Recentemente fui a uma cidade do Ceará, maior que a minha, fazer balisa de carro. Quando me desocupei, sentei-me à calçada, observando os transeuntes e outras pessoas que foram ali com o mesmo propósito que eu. De quando em vez passava um menino de uns dez anos com uma caixa de isopor, vendendo água mineral e de coco.
-- Uma água, moço? - oferecia ele.
Nesse instante o meu eu metafísico: comecei a pensar naquele menino, querendo desvendá-lo.
Pus-me a perguntar como seria a vida daquele menino, a sua família, se estudava ou não, se tinha amigos, um lar ou se morava, simplesmente, na rua. Indaguei, ainda, sobre a razão de ele estar ali, se vendia a água para alguém em troca de miseráveis moedinhas ou se para ajudar a família. Refleti sobre as razões e desrazões que o faziam viver daquele modo.
Eu criava hipóteses acerca do menino: poderia ser que, estando ali, fosse um menino muito bom para a mãe e os irmãos, ou que, ao contrário, o estivesse explorando-o, situação que condena muita criança brasileira. Na verdade, esse menino jazia em lugar inapropriado, em situação inapropriada. Final de semana, devia estar brincando, lendo, descansando... vivendo.
Me perguntava, por fim, a pergunta cuja resposta nós, homens preocupados com o destino do mundo, nunca obtivemos nem nos satisfez: por que a vida chega a ser tão injusta? Este questionamento certamente é capaz de gerar outra metafísica interminável.
Não me conformo com a injustiça, pior quando ela atinge a vida de uma criança, porque, no fundo, crianças são seres de inocência comprovada, que não sabem defender a si mesmas, pondo-se, às vezes, alheias à sorte. Crianças de rua cuja experiência nós, de olhos meio indiferentes, não gostaríamos de ter vivido. E se cada um pensasse, nem que por um breve instante, nessas criaturinhas, talvez uma saída e um rumo novo, agora estrelado, ganhariam os menores.
Não poderei esquecer a voz quase de súplica do menino que passava diversas vezes no mesmo trajeto, como se, a cada vez, não tivesse passado por ninguém:
-- Uma água, moço?
03 de agosto de 2014
-- Uma água, moço? - oferecia ele.
Nesse instante o meu eu metafísico: comecei a pensar naquele menino, querendo desvendá-lo.
Pus-me a perguntar como seria a vida daquele menino, a sua família, se estudava ou não, se tinha amigos, um lar ou se morava, simplesmente, na rua. Indaguei, ainda, sobre a razão de ele estar ali, se vendia a água para alguém em troca de miseráveis moedinhas ou se para ajudar a família. Refleti sobre as razões e desrazões que o faziam viver daquele modo.
Eu criava hipóteses acerca do menino: poderia ser que, estando ali, fosse um menino muito bom para a mãe e os irmãos, ou que, ao contrário, o estivesse explorando-o, situação que condena muita criança brasileira. Na verdade, esse menino jazia em lugar inapropriado, em situação inapropriada. Final de semana, devia estar brincando, lendo, descansando... vivendo.
Me perguntava, por fim, a pergunta cuja resposta nós, homens preocupados com o destino do mundo, nunca obtivemos nem nos satisfez: por que a vida chega a ser tão injusta? Este questionamento certamente é capaz de gerar outra metafísica interminável.
Não me conformo com a injustiça, pior quando ela atinge a vida de uma criança, porque, no fundo, crianças são seres de inocência comprovada, que não sabem defender a si mesmas, pondo-se, às vezes, alheias à sorte. Crianças de rua cuja experiência nós, de olhos meio indiferentes, não gostaríamos de ter vivido. E se cada um pensasse, nem que por um breve instante, nessas criaturinhas, talvez uma saída e um rumo novo, agora estrelado, ganhariam os menores.
Não poderei esquecer a voz quase de súplica do menino que passava diversas vezes no mesmo trajeto, como se, a cada vez, não tivesse passado por ninguém:
-- Uma água, moço?
03 de agosto de 2014
11 de julho de 2014
Um ser mulher
Se a mulher, durante longo tempo, não teve grande destaque nas sociedades, isto é, se socialmente não foi valorizada como é de seu merecimento, não foi por falta de reconhecimento de seu valor e de suas possibilidades. É o que eu noto no dia a dia, e dou o melhor exemplo, que um professor um dia me fez enxergar.
O exemplo é esse: se uma pessoa qualquer for a casa de seus pais e, chegando lá, estiverem todos da família, menos a mãe, a dona da casa e do lar, essa pessoa, certamente, e sem dúvida, sentirá a casa um tanto vazia, e se exasperará enquanto ela não aparecer. Não, ninguém conseguirá diminuir a importância do pai, dos irmãos e de qualquer outro parente, porém, a figura feminina da mãe, em ausência, chega a ser insuportável. Um pai, um irmão ou um tio, em falta, também chega a ser desconfortável, mas, ainda assim, é incomparável à falta da mãe.
Ainda os marmanjos, quando se veem em casa sozinhos, percebem logo o labirinto em que se metem, pois a mera saída de uma mulher de casa gera o desconforto de que falei anteriormente. E olhe-se que esse desconforto não se remete ao fato de a casa ficar uma bagunça. Se uma dona de casa não estiver no lar, é como se nada ali existisse.
Dizer o quanto uma mulher é imprescindível no mundo usando a figura da mãe é, realmente, referir-se a suas qualidades: doçura, companheirismo, amabilidade, iniciativa, vontade de sempre agradar etc., atributos dos quais o mundo precisa tanto e que os homens não os tem tão bem.
Vivemos num tempo em que a mulher precisa de reconhecimento. Aquelas mulheres que não saem do pé do fogão, as que lavam e passam roupa, as que vivem seus dias escuros, sem grandes oportunidades, as que são desprezadas, todas essas mulheres precisam saber que são grandes somente pelo fato de existirem em nossas vidas. Porque, no fundo, nós homens sentimos isso e, mesmo que silenciosamente, reconhecemos no interior de nossas almas
E a mulher nunca poderá estar na mesma posição que o homem: deverá estar além, muito além, porque o homem jamais terá a alma que a mulher tem, alma que os poetas já estudaram e nem descobriram toda, alma sempre a florescer, a encantar.
11 de julho de 2014.
O exemplo é esse: se uma pessoa qualquer for a casa de seus pais e, chegando lá, estiverem todos da família, menos a mãe, a dona da casa e do lar, essa pessoa, certamente, e sem dúvida, sentirá a casa um tanto vazia, e se exasperará enquanto ela não aparecer. Não, ninguém conseguirá diminuir a importância do pai, dos irmãos e de qualquer outro parente, porém, a figura feminina da mãe, em ausência, chega a ser insuportável. Um pai, um irmão ou um tio, em falta, também chega a ser desconfortável, mas, ainda assim, é incomparável à falta da mãe.
Ainda os marmanjos, quando se veem em casa sozinhos, percebem logo o labirinto em que se metem, pois a mera saída de uma mulher de casa gera o desconforto de que falei anteriormente. E olhe-se que esse desconforto não se remete ao fato de a casa ficar uma bagunça. Se uma dona de casa não estiver no lar, é como se nada ali existisse.
Dizer o quanto uma mulher é imprescindível no mundo usando a figura da mãe é, realmente, referir-se a suas qualidades: doçura, companheirismo, amabilidade, iniciativa, vontade de sempre agradar etc., atributos dos quais o mundo precisa tanto e que os homens não os tem tão bem.
Vivemos num tempo em que a mulher precisa de reconhecimento. Aquelas mulheres que não saem do pé do fogão, as que lavam e passam roupa, as que vivem seus dias escuros, sem grandes oportunidades, as que são desprezadas, todas essas mulheres precisam saber que são grandes somente pelo fato de existirem em nossas vidas. Porque, no fundo, nós homens sentimos isso e, mesmo que silenciosamente, reconhecemos no interior de nossas almas
E a mulher nunca poderá estar na mesma posição que o homem: deverá estar além, muito além, porque o homem jamais terá a alma que a mulher tem, alma que os poetas já estudaram e nem descobriram toda, alma sempre a florescer, a encantar.
11 de julho de 2014.
1 de junho de 2014
Salitre, sempre Salitre
Uma vez, e não faz muito tempo, ouvi alguém que não é salitrense dizer, não sei com que intenção: "Salitre nunca deixa de ser Salitre", como a querer expressar que somos um povo atrasado e que esse atraso é permanente, que parece sem fim. Foi justamente aí que me espantei (o espanto é sempre o começo de uma ideia), decidindo que escreveria uma crônica sobre o tema.
De fato, concordo com aquela criatura: Salitre é sempre Salitre. Mas, diferente dela, tenho duas opiniões, isto é, creio que Salitre nunca deixa de ser Salitre, e isso é um pouco ruim, só que também é muito bom. Direi por quê.
É ruim porque ainda continuamos, como quase todo o resto do Brasil, um povo sem muita consciência política, que não aprendeu ainda, ou que talvez não teve a oportunidade de lutar mais seriamente por uma vida melhor. Salitre é sempre Salitre, pois precisamos, urgentemente, dar mais valor ao que temos, sob pena de não perder nossa própria origem.
Havia um pintor em Salitre cuja obra é de excelente qualidade, mas não teve reconhecimento nem em vida nem em morte. Esse pintor chamava-se Mosinho, mas como não participava de vaquejadas fora esquecido.
E haverão outros pontos fracos para dizer que Salitre é sempre Salitre.
Por outro lado, Salitre é sempre Salitre, e isso é maravilhoso. Ora mais, nós somos o povo mais humilde e generoso que há no Brasil, não tenho dúvida. Quando digo povo humilde, quero dizer um povo que sabe se relacionar, que sabe unir-se em prol de uma questão, em prol de alguém. Recentemente, por exemplo, um menino precisava realizar uma cirurgia sem ter condições, mas uma multidão de gente boa, que é a nossa gente, incluindo autoridades e não autoridades, reuniu forças para ajudá-lo. Poucos dias atrás uma menina que veio do Espírito Santo disse ser muito bom estudar em Salitre, pois as escolas daqui são muito próximas dos alunos,diferentemente das de onde ela residia.
A nossa população é mesmo assim, constituída de homens e mulheres que, mesmo não abastados, não negam um prato de feijão, como se diz por aqui, que não deixam de oferecer a quem quer que seja, uma ajuda, uma palavra, um gesto de irmandade. Parece que temos um mesmo sangue. Parece que, por natureza, somos todos irmãos.
Por fim ficará esse recado: dirão ainda, por muito tempo, que estamos, como sempre atrasados, mesmo que mintam. Precisamos melhorar, e muito, contudo, o atraso já não é nossa característica. Dirão também que Salitre é sempre Salitre, Salitre do povo generoso, humilde, batalhador, fraterno como nenhum outro povo, nenhuma outra gente. Salitre, sempre Salitre.
01 de junho de 2014
De fato, concordo com aquela criatura: Salitre é sempre Salitre. Mas, diferente dela, tenho duas opiniões, isto é, creio que Salitre nunca deixa de ser Salitre, e isso é um pouco ruim, só que também é muito bom. Direi por quê.
É ruim porque ainda continuamos, como quase todo o resto do Brasil, um povo sem muita consciência política, que não aprendeu ainda, ou que talvez não teve a oportunidade de lutar mais seriamente por uma vida melhor. Salitre é sempre Salitre, pois precisamos, urgentemente, dar mais valor ao que temos, sob pena de não perder nossa própria origem.
Havia um pintor em Salitre cuja obra é de excelente qualidade, mas não teve reconhecimento nem em vida nem em morte. Esse pintor chamava-se Mosinho, mas como não participava de vaquejadas fora esquecido.
E haverão outros pontos fracos para dizer que Salitre é sempre Salitre.
Por outro lado, Salitre é sempre Salitre, e isso é maravilhoso. Ora mais, nós somos o povo mais humilde e generoso que há no Brasil, não tenho dúvida. Quando digo povo humilde, quero dizer um povo que sabe se relacionar, que sabe unir-se em prol de uma questão, em prol de alguém. Recentemente, por exemplo, um menino precisava realizar uma cirurgia sem ter condições, mas uma multidão de gente boa, que é a nossa gente, incluindo autoridades e não autoridades, reuniu forças para ajudá-lo. Poucos dias atrás uma menina que veio do Espírito Santo disse ser muito bom estudar em Salitre, pois as escolas daqui são muito próximas dos alunos,diferentemente das de onde ela residia.
A nossa população é mesmo assim, constituída de homens e mulheres que, mesmo não abastados, não negam um prato de feijão, como se diz por aqui, que não deixam de oferecer a quem quer que seja, uma ajuda, uma palavra, um gesto de irmandade. Parece que temos um mesmo sangue. Parece que, por natureza, somos todos irmãos.
Por fim ficará esse recado: dirão ainda, por muito tempo, que estamos, como sempre atrasados, mesmo que mintam. Precisamos melhorar, e muito, contudo, o atraso já não é nossa característica. Dirão também que Salitre é sempre Salitre, Salitre do povo generoso, humilde, batalhador, fraterno como nenhum outro povo, nenhuma outra gente. Salitre, sempre Salitre.
01 de junho de 2014
18 de maio de 2014
O bêbado é humano
Sempre pensei que não se deve desprezar os bêbados, porque
talvez eles tenham pouca culpa em relação à condição em que vivem. Eles são
resultados menos de um desleixo por si mesmos, um abandono de si, do que de um
sistema desigual, de uma sociedade perversa e crua.
De maneira geral, os bêbados são bem interessantes. Não fazem
muitos dias, por exemplo, eu sentara no ponto de ônibus quando veio um bêbado
me perguntar se eu tinha dez centavos. Meio envergonhado, eu disse que não. A
resposta dele foi a seguinte.
-- Não presta para estar vivo.
Deu-me vontade de rir. Mas não o fiz, pois poderia ele se
zangar e querer meter-se a valente, o
que é próprio dos bêbados.
Nessa cidade, me lembro que um homem muito beberrão, punha-se na rua a pedir
dinheiro aos transeuntes, mas sempre recebia algo, porque circulava o mito de
que toda praga que ele jogava, quando não davam-lhe o que pedia, pegava. Esse
homem costumava dormir nas calçadas, de grande que era o porre nos finais de
semana. E por causa da cachaça tornou-se conhecido de todos.
Entretanto, mesmo engraçados, pouco se lhes dá de valor. Se
não forem nosso parentes preconceituosamente queremos, sem demora, fugir deles
a todo custo.
O que é necessário é compreender que o beberrão de rua, às vezes, é
também um homem trabalhador, que dá o máximo de si para sustentar a família. Um
bêbado de esquina muitas vezes não deixa de ser um homem decente quando não
está naquela situação. Alguém que bebe, homem ou mulher, não deixa de ser, ao
mesmo tempo, um ser humano que quer fugir dos problemas e dos males da vida,
das decepções mundanas, das frustrações familiares ou das determinações
históricas, como a pobreza, a fome, a miséria. Por isso, que não se culpe os
bêbados nem se os despreze... Afinal de contas, o desprezo às pessoas nunca
deixa de ser o maior dos porres.
10 de abril de 2014
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