Sempre pensei que não se deve desprezar os bêbados, porque
talvez eles tenham pouca culpa em relação à condição em que vivem. Eles são
resultados menos de um desleixo por si mesmos, um abandono de si, do que de um
sistema desigual, de uma sociedade perversa e crua.
De maneira geral, os bêbados são bem interessantes. Não fazem
muitos dias, por exemplo, eu sentara no ponto de ônibus quando veio um bêbado
me perguntar se eu tinha dez centavos. Meio envergonhado, eu disse que não. A
resposta dele foi a seguinte.
-- Não presta para estar vivo.
Deu-me vontade de rir. Mas não o fiz, pois poderia ele se
zangar e querer meter-se a valente, o
que é próprio dos bêbados.
Nessa cidade, me lembro que um homem muito beberrão, punha-se na rua a pedir
dinheiro aos transeuntes, mas sempre recebia algo, porque circulava o mito de
que toda praga que ele jogava, quando não davam-lhe o que pedia, pegava. Esse
homem costumava dormir nas calçadas, de grande que era o porre nos finais de
semana. E por causa da cachaça tornou-se conhecido de todos.
Entretanto, mesmo engraçados, pouco se lhes dá de valor. Se
não forem nosso parentes preconceituosamente queremos, sem demora, fugir deles
a todo custo.
O que é necessário é compreender que o beberrão de rua, às vezes, é
também um homem trabalhador, que dá o máximo de si para sustentar a família. Um
bêbado de esquina muitas vezes não deixa de ser um homem decente quando não
está naquela situação. Alguém que bebe, homem ou mulher, não deixa de ser, ao
mesmo tempo, um ser humano que quer fugir dos problemas e dos males da vida,
das decepções mundanas, das frustrações familiares ou das determinações
históricas, como a pobreza, a fome, a miséria. Por isso, que não se culpe os
bêbados nem se os despreze... Afinal de contas, o desprezo às pessoas nunca
deixa de ser o maior dos porres.
10 de abril de 2014
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