8 de fevereiro de 2014

Muito caro


 Hoje pela manhã, após dar um passeio pela rua de muito movimento, e depois de resolver também algumas obrigações, passei por um menino que vendia tomates debaixo de uma árvore e, de súbito, pensei em tomar uma atitude: "já que eu tenho que comprar tomates, melhor comprar àquele rapazote", e fui procurar saber quanto custava. 

-- Quatro reais - me disse ele.
-- Eita, mas está é caro, hem!
Só depois disso é que eu me surpreendi com a minha própria descoberta: caro não é o produto vendido por aquela criança, caro é ela estar ali, impropriamente, trabalhando quando não devia. Cara é a quentura que a maltrata, talvez a fome que lhe desvitaliiza. Caros, dentre outras coisas, são os olhos indiferentes que passam por ali, vendo aquele episódio como algo qualquer e comum.
A poucos passos, pensei ainda em quantas crianças nessa cidade não pagam essa mesma carestia, em quantas não pagam além dela. Em meu pensamento correu a ideia de que não devo culpar seus pais e sua família, que, assim como aquele menino, pagam caro para viver, para sobreviver a qualquer custo. Isso porque em criança também trabalhei muito, mais do que podia, mas jamais pude culpar os meus pais por tal fato, pois se para mim a dificuldade se expressava, para eles tomava maior vulto.
Não quero dizer  que as crianças podem continuar trabalhando porque aqueles que as fizeram são sofredores. Jamais. O certo é não trabalharem. O que digo, repetidamente, é que tudo isso é muito caro e rouba, injustamente, o prazer e a felicidade infantis. Trabalho infantil assalta a alegria infantil que, a meu ver, dinheiro nenhum paga.

Salitre - CE, 08 de fevereiro de 2013.


Um comentário:

  1. Sua visão não poderia ser diferente meu caro Manoel. A sua sensibilidade para com as coisas pequenas, e que julgam muitos serem sem significado, é muito ampla. E tu, como não poderia deixar de fazer, transcorre muito bem essas pequenas coisas de forma literária como só tu sabe. Texto muito belo, tens a minha admiração. (Trabalho infantil assalta a alegria infantil que, a meu ver, dinheiro nenhum paga.)

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