O grande dia
hegou
o grande dia!
Depois
de tanto esperar, com altas expectativas, veio tão sublime o dia esperado!
Foi
aquela correria para que ele chegasse! De dia foi aquela loucura, as crianças
correndo para lá e para cá, de um canto a outro da casa, em busca do que fazer.
E ficavam pensando, atônitas: se já tivesse chegado o dia, seria tão bom! Mas
como o grande dia ainda não chegasse, corriam feito loucas, brincando, só para
verem se o tempo passava logo para que o dia sonhado chegasse.
Porém
o grande dia não chegava ligeiro...
As
crianças pequenas, esbeltas, marotas, riam-se à toa, pensando como o grande dia
seria. Iam ver como é que os amiguinhos chegavam, com que cara, com que
roupa... iam ver de que cor seria o lápis, de que de espessura o caderno, o
desenho da capa...
E
mais do que as coisas, o grande dia iria mostrar os sorrisos, as peraltices...
Iam ver coisas que só o grande dia pode trazer: iam abraçar seus pares e,
dizer, o coração batendo forte: “tive tantas saudades de você, esperei tanto
por hoje”; e dizer ainda, na ânsia de matar a saudade: “vamos brincar um pouco,
vamos conversar”...
Tinham
pesadelos, enquanto a lua posava no alto céu, de que o grande dia não fosse
mais chegar.
Perguntavam-se,
temerosas: será que fulaninha vai voltar? Quem vai ser minha tia?
Enquanto
o grande dia não chegava, punham-se a tudo imaginar, punham-se a criar nas suas
mentes férteis o enredo para o dia do reencontro.
Era
um sonho bonito, o sonho do grande dia. Porque, afinal, todo mundo queria
narrar as suas férias, contar as peripécias, falar dos passeios e, sobretudo,
dizer que não aguentava mais ficar em casa.
Tanta
era a expectativa, para o grande dia, que todo mundo queria enlouquecer.
Enlouquecia a diretora, de um lado para o outro, para arrumar a escola,
deixá-la agradável; corria a coordenadora, também louca, querendo acolher os
mestres; enlouquecia a secretária, que não parava de ler as fichas de
matrícula; enlouquecia a merendeira, procurando na despensa a melhor merenda
para o grande dia; enlouquecia o porteiro, que já não aguentava mais ficar
longe do portão; e corriam sobretudo os mestres, escolhendo entre mil ideias
qual seria a melhor para o primeiro dia de aula...
Até
que o grande dia chegou, e tudo aconteceu: os risos, os abraços, os medos, os
receios, a vontade de chorar de alegria, as falas, os silêncios, os olhares...
a felicidade do retorno.
Mas
quem primeiro veio foi o bonde, apontando na estrada, amarelinho que nem uma
estrela. As crianças disseram de si para si, ao vê-lo na estradinha: “até que enfim”...
Quem
primeiro recebeu um bom dia foi o motorista, mas dentro do bonde só se ouvia
algazarra, porque o coração disparava em batimentos, tão apressada e forte
estava a emoção.
O
grande dia chegou!
Os
mestres também eram todos saudade! Por isso se fizeram em abraços, em
cumprimentos, em olhares... por isso organizaram tudo para que aquele primeiro
dia fosse inesquecível, porque as pessoas mais importantes estavam de volta. As
crianças, os alunos estavam voltando... e vinham tão carregadas de vida, que
nada podia estragar.
Chegou
o grande dia, o dia da volta às aulas! Dia tão esperado, tão desejado! Porque é
o dia em que na escola a vida começa a pulsar, porque ela se enche de gente, se
enche de criança, de jovem!
O
primeiro dia de aula é na escola o dia em que todos nós começamos a viver. É o
primeiro dia de aula que nos convence de que as crianças merecem, todos os
dias, a nossa atenção, o nosso esforço e o nosso amor.
Avante,
que o primeiro dia chegou!
Grande
desejo
impossível
À
Veronica Regina
Eu
queria ter muita alegria para
dar
um pouco a quem precisar,
uma
alegria que fosse como
o
sol no céu a brilhar.
E
ajudar a navegar
pelo
mar de ninguém
que
é vida complicada
a
que se quer tanto bem.
E
se o barco se afastar
para
a distante paisagem
com
alegria eu iria carregar
alguém
para a margem.
Pudera
de alegria eu
estar
todo encoberto,
para
trazer uma luz em
meio
ao deserto.
Para
animar alguém que
precisasse
tanto,
alguém
de cuja vida só
conhece
o sabor do pranto.
Eu
queria ter grande alegria
para
afagar um amigo
e
num riso sincero ser
quem
sabe um abrigo.
Para
quem tem medo da noite
ou
do barulho do mar
eu
gostaria de uma alegria
que
pudesse encorajar.
Eu
queria ter muita alegria
para
espalhar por aí
para
que os que eu gosto tanto
pudessem
sempre rir.
Mas
eu não tenho essa alegria,
ela
foi-se com o mar pra mais além,
e
quando eu vejo alguém tristonho
eu
só sei ficar triste também.
Cântico
dos
telhados
Quando
chove os
telhados
mudos
inventam
canções
em
choros agudos.
Os
pingos de chuva,
molhando
as matas,
atravessam
a manhã
em
serenata.
Quem
mais aproveitam
são
os passarinhos, e,
em
cânticos serenos,
se
deitam nos ninhos.
Quando
chove os meninos
se
põem todo enrolados
em
lençóis de seda
escutando
os telhados
que
cantam as serenatas
e
as sonatas e os hinos,
melodias
suaves para
se
tirar bons cochilos.
Não
se sai para a rua
e
nem se muda de rota
com
medo de se perder
alguma
estridente nota.
É
mesmo engraçado
quando
a chuva vem,
pois
ninguém diria que telhados
mudos
cantam tão bem.
Ninguém
pensaria que
eles
sabem embalar,
pois
suas notas pingadas
são
canções de ninar.
Quando
chove, enfim,
a
vida toda vira festança,
porém,
aos cânticos dos telhados
ninguém
dança.
Avozinha
no
jardim
Avozinha
entrou
pra
olhar a flor,
e
se arqueou.
Seus
olhos
olharam,
olharam
a flor,
cheios
de
candura
e
de
amor.
Avozinha
entrou
pra
ver a flor e
com
que olhos
se
espantou.
Por
que a flor
tinha
cor
e
tinha sabor.
Avozinha
saiu
depois
de olhar a flor,
saiu
cheia de esplendor.
E
tão flor a
vozinha
era
que
o tempo,
de
repente,
tornou-se
primavera.
Senhorinha
Senhorinha,
senhorinha
está
comprando
pimentinha
que
é pra pôr
no
arroz e
na
galinha.
Sim,
vai cozinhar
que
ela é mãe e
é
avozinha,
e
aparece
tanta
gente
pra
comer,
ao
meio dia e
à
tardinha.
Por
isso ela
compra
pimentinha.
Senhorinha,
Senhorinha
desceu
do Alto,
de
sua casinha
e
veio se pôr ali
tão
bonitinha
a
comprar
pimentinha.
Que
cozinhar é arte
Arte
de todo dia,
dela
que é tão feliz
por não ser sozinha.
Confirmação
Eu
queria um poema, agora a noite.
Nem
que sejam pequenos versos ou frases pela metade.
Sem
precisar dizer o que sinto.
Não
precisa ser bonito o verso.
Só
precisa sair. Depois eu arranjo uma moldura qualquer.
Um
poema na noite...
Só
para ver se eu sou mesmo gente, ou se pedra.
Não
chores
mais
Para Veronica Regina
Que
não chores
mais,
menina,
essa
água pura
e
cristalina,
e
para que não
se
desfaleça o
brilho
de tua retina.
Não
chores porque
todo
homem
tem
uma sina,
que
é voltar para
a
casa de quem
primeiro
o aninha.
Por
isso não chores
mais,
menina.
Não
chores e
ao
invés ensaia
um
riso,
porque
os que se
vão
desse mundo
apenas
chegam
primeiro
ao paraíso.
Eu
sei que essa dor,
a
dor de perder
quem
é parte de nós
é
coisa que só
quem
já sentiu
pode
entender.
Mas
se não
dominaes
teu
pranto,
que
vem minado,
chores
um tiquinho
ainda,
menos
pela
alegria de
ter
perdido alguém
é
mais por
tê-lo
amado.
Não
chores menina,
pois
quem parte
apenas
vira passarinho
e
realiza um sonho
que
também é nosso:
o
chegar ao aconchego
do
ninho.
O
gato
Ao
Tales
Era
um gato
malhado
que
de um pulo
estava
no telhado.
Era
um gato
animal
que
só queria
mingau.
Era
um gato
mansinho
que
gostava
de
carinho.
Era
um gato
envergonhado,
que
só fazia
cocô
no mato.
Era
um gato
gaiato
que
lambia
o
prato.
Era
um gato
legal,
que quando
tinha
fome
dizia
miau.
Era
um gato
Menino
que
quando
aprontava
saía
de fininho.
Não
era gato mau,
só
quando beliscava
e
fugia pro quintal.
Não
era gato
de
besteira,
só
quando não comia
comida
de geladeira.
Quando
uma
gatinha
passava
o
gato enxerido
a
pata acenava.
Era
um gato
Preguiça
que só
queria
dormir
de
noite e de dia.
E
quando tinha
que
tomar banho
fingia
que estava
com
dor de barriga.
Chove,
chuva
chove,
chuva
chove,
chuva
para
que a
tarde
seja
leve
como
a
pluma.
chove,
chuva
chove,
chuva
para
que a
alegria
dos
mais
simples
não
se exuma.
chove,
chuva
chove,
chuva
os
campos
se
encherão
de
saudosa
bruma.
e
as cigarras
vão
ninar...
chove,
chuva
crianças
com
canções
noturnas.
chove,
chuva.